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Entrevista a Isabel Viegas: “A Semapa foi um presente de carreira avançada que me ofereceram”

Isabel Viegas é licenciada em Psicologia e Mestre em Políticas e Gestão de Recursos Humanos. Docente na Universidade Católica, é também cofundadora da Associação sem fins lucrativos d’NOVO, que valoriza e promove a atividade profissional qualificada sénior em Portugal.

Após mais de três anos como Chief People Officer na Semapa, e aos 67 anos, Isabel Viegas encerra agora um ciclo, permanecendo ligada ao Grupo na qualidade de consultora. Nesta entrevista, conta-nos como tudo começou, o processo de transformação na cultura da holding e das empresas participadas, a dedicação quotidiana às pessoas e o valor de um propósito tornado lema do Grupo. Making it better: fazer hoje melhor do que ontem. Isabel Viegas deu o melhor exemplo.

Como surgiu o convite para se tornar Chief People Officer?

Em 2022, quando o Ricardo Pires foi convidado a assumir as funções de CEO, conversou comigo e disse-me que queria começar um processo de  transformação significativa na Semapa, com dois pilares de atuação. O Investimento, que, no fundo, é a matriz da casa e, em simultâneo,  o desenvolvimento de Talento. Porque não vale a pena investir sem ter as pessoas certas, nem ter as pessoas certas sem projetos para lhes dar.

Encantou-me ouvir um CEO dizer que colocava no mesmo patamar o Investimento e as Pessoas e o Talento. E aceitei o convite para ser Chief People Officer da Semapa, mesmo não estando no meu “radar” assumir uma função executiva nesta fase da minha carreira e da minha vida. Foi assim que iniciámos esta jornada.

Qual foi o primeiro passo?

Pensámos muito sobre como gostávamos que a Semapa viesse a ser, e fizemos esta discussão também com a equipa toda. Estivemos a conversar, sobretudo, em torno das perguntas “Porque é que me levanto todos os dias de manhã? Porque é que nós, na Semapa, nos levantamos todos os dias de manhã?”

Começámos, então, à procura daquilo que seria o nosso foco e o nosso propósito para este novo tempo da Semapa. Além da transformação, havia um desígnio muito importante na área que coordenei. Queríamos aproximar-nos das necessidades das participadas do Grupo e ver como poderíamos ser-lhes úteis. Discutimos com toda a equipa aquilo que gostaríamos de ser, definimos que queríamos ser uma holding que acrescenta valor às suas participadas. E ficou claro. “Eu levanto-me todos os dias de manhã para todos os dias acrescentar valor à equipa Semapa e às participadas do Grupo.”

Foi assente nessa base que definiram o propósito do Grupo?

Acabámos, de facto, por definir um propósito comum, que ainda hoje está muito ativo e dinâmico: o Making it Better. Queremos fazer em cada dia melhor do que fizemos ontem, nesta senda de ir acrescentando valor naquilo que é o pilar das Pessoas e do Talento, quer da Semapa, quer das empresas participadas.

As participadas tinham culturas muito diferentes entre si?

Foi também nessa altura que percebemos que não queríamos fazer uma uniformização das culturas. As nossas empresas são diversas, têm percursos, culturas e legados muito próprios, por isso, vamos respeitá-los. E quanto mais diverso for o Grupo, mais rico ele é. Por isso, não caminhámos durante estes três anos com o objetivo de uniformizar culturas, mas sim no  sentido de, com humildade, encontrar alguma linguagem comum,  embora deixando que cada empresa fizesse o seu caminho. Foi este o foco, acrescentar valor ao que as participadas já faziam.

Como selecionaram as prioridades para a área de Pessoas e de Talento?

Percebemos desde cedo que, com cerca de seis mil colaboradores, sete mil atualmente, não poderíamos abranger todos com as mesmas práticas. Decidimos que o grupo preferencial que queríamos impactar, enquanto holding, e acrescentar valor seriam os diretivos de primeira linha. Queríamos tentar inspirá-los e promover momentos de partilha de experiências e de ideias. Foi assim que nasceu o Future Proof Leadership Program, um programa de liderança que desenvolvemos em parceria com a Nova School of Business and Economics (Nova SBE).

Pode falar-nos um pouco do programa?

Foi muito emblemático porque permitiu que os diretores de primeira linha das várias empresas se conhecessem e criassem sinergias. Temos vários projetos que nasceram no Future Proof Leadership Programme das suas cinco edições. Essa foi a primeira peça deste edifício que fomos construindo e que contribuiu para as empresas participadas percebessem que o objetivo da Semapa era acrescentar-lhes valor.

Há outro exemplo que queira destacar?

Não tínhamos muitos dados sobre como os colaboradores se sentiam na nossa casa, no nosso Grupo. Sentimos, então, a necessidade de estudar o clima interno. Em 2023, fizemos a 1.ª edição do Estudo de Clima organizacional, em todo o Grupo. Passámos a ter um canal para ouvir os colaboradores de forma estruturada, que nos possibilita ter dados que servem de base para fazer ajustes e tomar algumas decisões. É muito importante porque nos permite escutar o que as pessoas sentem e fazer esses ajustes. E porque as pessoas sabem que são ouvidas.

Repetimos o estudo este ano e tivemos 84% de taxa de resposta. Dada a dispersão geográfica do Grupo, é muito bom. Isso mostra que os colaboradores querem dar o seu contributo e confiam no modelo criado. Ouvir as pessoas permite-nos ir fazendo sempre melhor e perseguir o nosso Propósito, Making It Better.

“Se estivesse a falar para os 7 mil colaboradores do Grupo, diria para assumirem mais o poder que têm. Poder para fazer a diferença”

Como surgiu o programa específico para os colaboradores mais jovens?

Em determinado momento, os mais novos do Grupo manifestaram a necessidade de existir também uma iniciativa específica para eles. Assim nasceu o Talent Lab, que vai agora para a terceira edição. É um programa diferente, que não é feito numa escola. Os jovens têm oportunidade de conhecer muito bem o Grupo, por exemplo, estão duas semanas a trabalhar numa das fábricas da Semapa, numa área diferente da sua, e durante esse tempo têm de criar algo. Têm também uma visita internacional — já foram a Berlim, Londres, e este ano será outro destino. Trabalhamos muito estas visitas para que os participantes possam ter acesso a realidades e contextos que não conseguem ver em Portugal, que sejam muito diferentes. E que isto lhes abra também os horizontes e os faça pensar “a vida não se limita ao sítio onde estou. É muito mais”.

Como promoveram o sentido de pertença dentro do Grupo?

Ao longo dos anos, reforçámos o sentimento de pertença, mostrando que qualquer que seja a empresa participada em que estiver, cada pessoa pertence a um Grupo maior. Criaram-se comités transversais das várias áreas, desde o Talento à Inovação e à Sustentabilidade. Os eventos anuais do Grupo, por exemplo, também se foram abrindo. O Encontro de Quadros, atualmente, é muito diferente daquilo que era antes deste trajeto de três anos. Têm corrido muito bem, mas vamos sempre ouvindo o feedback que as pessoas nos dão e uma das mensagens era que gostariam de um Encontro de Quadros em que pudessem conversar mais uns com os outros. E o formato do Encontro de 2025 deu resposta a esse pedido. Este ano foi muito surpreendente e interessante.

Há também o evento anual da Semana Making It Better, que é extraordinária porque são cinco dias do ano em que todas as empresas estão alinhadas e comprometidas em viver o mesmo propósito. É muito importante.

Além da diversidade cultural, o tema da diversidade geracional é importante para a Semapa?

Acho que temos vindo a fazer um bom equilíbrio entre pessoas com mais experiência, mesmo falando na questão da idade, e pessoas muito novas. Eu posso ter na minha equipa uma pessoa mais velha, uma mais nova, e vou buscar a uma e a outra aquilo que eles têm para dar e para se completar. O tema da diversidade, não só da idade, mas também de experiência e até de background, é muito importante para nós. No ano passado comprometemo-nos, como Grupo, a trabalhar no tema da diversidade. No fundo, lançámos o desafio às empresas participadas: se tivermos equipas mais diversas seremos melhores; produziremos mais. Teremos melhores resultados. Atrairemos melhores pessoas. É, pois, um tema que estamos a gerir.

Foi fácil conciliar a componente de liderança com o apoio individual aos colaboradores?

O meu papel na Semapa teve muito de execução (era preciso contribuir para a transformação do Grupo) e, em simultâneo, uma grande componente de apoio às equipas, aos líderes e às pessoas, que é uma função que tenho desempenhado ao longo da vida. E a minha formação também vem daí. Foi preciso apoiar algumas pessoas em determinados momentos, tudo isto é natural. Faço-o de forma muito orgânica. No fundo, aciono as competências que fui desenvolvendo ao longo da vida. Gosto muito dessa vertente. E, fora da Semapa, há muitos anos que o faço pro bono e estou a apoiar algumas pessoas, ainda neste momento, nesse regime. Sinto que cada um de nós pode fazer a diferença na vida de alguém.

Tem orgulho no edifício que ajudou a construir?

Tem sido um privilégio. Costumo dizer que a Semapa foi um presente de carreira avançada que me deram. Estou muito agradecida. A raiz, as sementes que lançámos ao longo destes três anos, ficam cá. Estou muito tranquila porque o que se construiu é para continuar, para desenvolver, para melhorar, para crescer. Há uma frase que digo e direi toda a vida: os CEOs fazem muita diferença nas empresas. E na Semapa temos um CEO que ajuda a criar o ambiente e o espaço para que tudo possa ir avançando.

Como foi preparada a passagem de testemunho?

Sempre foi claro que eu faria um mandato, durante o qual procuraríamos assegurar a minha sucessão como executiva. E demos início a este processo com tempo. Não procurámos alguém que fosse uma cópia minha, mas, sim, que acrescentasse novas competências, especialmente nas áreas da análise de Dados, da Inovação e da Sustentabilidade. Foi um processo difícil e que durou meses. Mas encontrar a Joana Machado foi natural. Percebemos logo que encaixava nos valores do Grupo e traria as valências para um novo ciclo.

Vai continuar ligada à Semapa. Como vai ser esta nova fase?

Após esta transição, mantenho-me ligada à Semapa como consultora, com toda a disponibilidade para aconselhar, apoiar, partilhar experiência e participar nalguns projetos (por exemplo, na Fundação Pedro Queiroz Pereira). É uma posição que me permite continuar a contribuir, mas mantendo espaço para a renovação e para a autonomia das equipas. Estarei sempre na retaguarda para ajudar no que for preciso. E estou muito contente!

Finalmente, que conselho gostaria de deixar aos colaboradores da Semapa?

Se estivesse a falar para os 7 mil colaboradores do Grupo, diria para assumirem mais o poder que têm. Poder para fazer a diferença.

Usem o poder que têm no sentido de dar ideias, de influenciar, de dizer que não concordam ou que têm uma ideia. Não sejam passivos. Sejam atores deste filme que estamos a fazer juntos. E invistam no vosso desenvolvimento, invistam na empresa. Vale a pena investir neste Grupo. Vale a pena cá estar e contribuir.