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"O Grupo Semapa é uma entidade maior com valências que vão além da soma das partes"

Joana Machado trabalhou na Deloitte, Mars e TAP antes de chegar ao Grupo Semapa, onde lidera as áreas de Talento, Inovação e Sustentabilidade. Uma das suas prioridades a médio prazo é trabalhar a cultura do Grupo – uma cultura que respeita os legados das diferentes empresas mas encontra traços comuns. Nesta entrevista, fala sobre como criar ambientes onde as pessoas podem crescer, porque é que a diversidade importa, e como se constrói cultura no dia a dia.

Como surgiu o convite para integrar a Semapa?

Aconteceu sem eu estar à espera. O meu nome terá surgido na Semapa e abordaram-me para explorar a viabilidade de trabalharmos em conjunto. Nessa altura estava na TAP, numa função intensa e muito desafiante na Direção de Recursos Humanos, da qual gostei muito.

O que a motivou a aceitar?

A Semapa tem um conjunto de características que me falaram ao coração. Ser uma empresa portuguesa, com acionistas privados, e com todo um espírito que vem não só do Pedro Queiroz Pereira, mas também das filhas – um espírito de longo prazo, de negócios sólidos, de indústria. Confesso que sou apaixonada pela indústria e senti que era a oportunidade ideal para ter experiência nesta área.

Pode falar-nos do seu percurso profissional?

Tenho um percurso bastante diverso. Comecei pela auditoria financeira na Deloitte, durante cinco anos, e foi uma escola incrível. Depois abracei uma direção financeira na Royal Canin, do Grupo Mars, onde havia muito para fazer. Fiquei responsável por sanear as contas e estruturar as operações de logística durante sete anos, até que surge a oportunidade de transitar para a direção comercial, área que eu assumi até ir trabalhar para a TAP.

Como foi a transição entre áreas tão diferentes?

Gostei de todos os desafios que tive na carreira. Se houve momentos menos felizes, não estão relacionados com os desafios, mas com as equipas e a forma como se organizam. O que percebi é que bons ambientes – onde sabemos o que é esperado de todos, onde podemos falar e aportar as nossas valências, onde até podemos brincar e ousar – são os ambientes em que as equipas se elevam.

Quais são as suas responsabilidades na Semapa?

Tenho a responsabilidade pelos pelouros do Talento, Inovação e Sustentabilidade. São três áreas com algo em comum: a cultura. E cultura é aquilo que fazemos todos os dias.

Como vê a ligação entre estas três áreas?

Quando temos uma cultura de sustentabilidade, temos de incorporar práticas diárias coincidentes com os nossos objetivos. Se queremos ser uma empresa inovadora, todos os dias temos de nos desafiar a pensar diferente. Não podemos ficar agarrados ao “aqui faz-se assim”, temos de estimular criatividade e abraçar a possibilidade de erro controlado.

Qual é a sua visão sobre o talento?

Talento é a combinação das capacidades e energia existentes nas nossas pessoas com o propósito e cultura da organização. É o potencial para gerar impacto sustentável. Combina o solo e a semente, o contexto, o saber e a motivação. É obrigação das empresas criarem boas condições. Volto à parábola dos talentos, dos dons que nos foram entregues: podem ficar arrumados numa caixa sossegados ou estar ao serviço da sociedade. Por isso, trabalhar talento significa desenvolver continuamente os talentos, potenciá-los.

Atualmente, como se atrai e retém talento?

Atraímos para ambientes que as pessoas reconheçam como terreno fértil – onde têm água, sol, todas as condições para trazerem os seus dons e entregá-los ao serviço do sítio onde estão. Existem características favoráveis: as pessoas saberem o que é esperado delas, sentirem que alguém se preocupa para além do meramente profissional, terem desafios que as desenvolvam e uma rede de apoio na organização.

“A Semapa tem um conjunto de características que me falaram ao coração. Ser uma empresa portuguesa, com acionistas privados, e com todo um espírito que vem não só do Pedro Queiroz Pereira, mas também das filhas – um espírito de longo prazo, de negócios sólidos, de indústria.”

Quais são as prioridades a curto prazo?

As prioridades são dar seguimento àquilo que a Isabel Viegas começou – um projeto muito bem estruturado. O Grupo está numa fase em crescendo: passámos uma fase de infância onde as coisas foram estruturadas, e agora estamos numa fase de adolescência onde há outras coisas a repensar.

E quais são os objetivos a médio prazo?

As prioridades passam por trabalhar a cultura do Grupo Semapa. Uma cultura onde, apesar de todo o trabalho e estratégia de cada empresa, há uma entidade maior. É esta a minha função. Para além de sermos uma holding e gerirmos participadas, queremos criar uma cultura do Grupo, uma cultura que respeita as culturas e os legados das diferentes empresas mas que encontra alguma linguagem e traços comuns. O Grupo é uma entidade maior que tem valências maiores do que a soma das partes.

De que forma o talento se cruza com a inovação?

Cruza-se num traço comportamental que queremos ver mais na organização. As organizações hoje não se podem dar ao luxo de estagnar. Inovar significa ter uma mente aberta, olhar para o mundo que nos rodeia, pensar fora da caixa, potenciar o que temos para além do hoje. Ter capacidade de trabalhar para a frente, não só no dia a dia mas também para o futuro.

Que papel têm as lideranças neste processo?

Trabalhar talento significa em primeiro lugar trabalhar as nossas lideranças. São os nossos líderes, com backgrounds diferentes e que podem estar mais ou menos preparados para lidar com equipas, que têm  no dia a dia a proximidade às equipas para criar uma cultura de inovação e desenvolvimento.

Como vê a plataforma de mobilidade interna do grupo?

É um mecanismo excecional de colaboração entre as várias empresas, de estarmos atentos às nossas pessoas e ao seu potencial. As nossas pessoas também estão atentas às oportunidades que existem  e há momentos em que sentem necessidade de um salto de carreira e, perante essas oportunidades, escolhem ficar dentro do grupo em vez de sair.

É um programa dinamizador deste espírito de pertencermos a um grupo, de as empresas colaborarem entre si, de sermos terreno fértil para uma carreira profissional diversa e com significado.

Que importância atribui à diversidade, equidade e inclusão?

Acho que as organizações devem ter uma cultura forte. A diversidade, a equidade e a inclusão são pilares essenciais para o sucesso sustentável de qualquer empresa. A forma como fazem as coisas deve ser conhecida e clara e não vejo em como não abraçar estes três pilares na forma como as empresas atuam. Acredito que equipas diversas geram mais criatividade, inovação e capacidade de resolver problemas complexos.
A equidade garante que todos tenham acesso às mesmas oportunidades de desenvolvimento e reconhecimento, independentemente do ponto de partida. E a inclusão é o que transforma a diversidade num verdadeiro ativo: cria um ambiente onde cada pessoa se sente respeitada, ouvida e capaz de contribuir plenamente.

Como é que a diversidade fortalece as empresas?

Quanto mais diversidade tivermos dentro do Grupo, mais promovemos uma perspetiva abrangente. Empresas que procuram sempre o mesmo tipo de pessoas, do mesmo background, da mesma forma de estar, têm menos capacidade para inovar, menos capacidade de adaptação ao mercado global onde estamos inseridos.

Para mim, diversidade é uma mais-valia para qualquer empresa, porque é da diversidade que vêm formas de pensar diferentes, perspetivas diferentes, experiências diferentes. Isto é enriquecedor, individual e coletivamente.

O que significa para si o compromisso da Semapa com estes valores?

É muito importante estar numa empresa cuja administração assina um manifesto de diversidade, equidade e inclusão, comprometendo-se de forma tão notória com acolher esta forma de estar e respeitá-la. Afirmar que não só é bem-vinda, como deve ser potenciada dentro do Grupo, seja ela qual for. Isto é uma riqueza para qualquer negócio.

Coabitar com a diversidade significa que temos de ter valores muito sérios relativamente ao respeito e à equidade, porque da diversidade vêm perspetivas que não compreendemos tão bem.

Onde gostaria de ver a Semapa daqui a cinco anos?

Gostava de ver a Semapa bem sucedida, uma empresa que leva avante o seu propósito “Making it Better”. Investimentos bem-sucedidos, feitos de uma forma reconhecida pelo mercado – seja pela forma de estar nos negócios, seja pela forma como abraça novos negócios e os integra, seja pela forma como se afirma com uma cultura forte. Aquilo que ambiciono é que o Grupo Semapa seja uma holding de empresas onde, fazendo melhor todos os dias através das suas cerca de 8.000 pessoas, se consiga concretizar os objetivos a que se propõem. E que seja reconhecido pelo mercado como um Grupo de referência, com entidades com quem se quer trabalhar, seja como colaborador, fornecedor, cliente, parceiro ou investidor.